Ser professor em 2020: desafio aceito!
Carolina Melo e Kharen Stecca
Um ano diferente. Planejamentos e planos de um semestre inteiro tiveram que ficar suspensos, assim como também ficou em suspensão a atenção do mundo, direcionada aos desdobramentos de uma pandemia que colocou à prova qualquer certeza. Com a passagem do tempo, as saídas foram se apresentando. Nem sempre ideais, mas as possíveis.
A rotina passou a ser mediada, quase que exclusivamente, pelas telas de computadores. Assim, retomaram-se o contato com os colegas profissionais, os grupos de pesquisas, as aulas e orientações. E, no mesmo espaço, o núcleo familiar e a rotina sendo pensada e dividida com os integrantes da casa. O desafio foi aceito.
A casa, agora, tornou-se um lugar de múltiplas funções, que promove o intercâmbio de espaços e permite a sobrevivência e a adaptação da Educação e a manutenção do compromisso com a docência, o ensino, a pesquisa e a extensão. O lar abre espaço para a escola. A escola também é o lar. E a engenharia nem sempre é harmônica.
Relatos
No âmbito de quem pesquisa as tecnologias a pandemia foi para mim um desafio como profissional que precisou nesse contexto demonstrar que elas podem ser utilizadas com qualidade (a depender do uso, desde que com acesso a tod@s). As tecnologias representam na sociedade atual um símbolo do capitalismo selvagem vigente e poder analisá-las numa perspectiva crítica e de não reprodução/exclusão ainda é uma quase impossibilidade para alguns. Assim, poder mostrar por meio da ciência que essa possibilidade de uso das tecnologias na educação com qualidade social, equidade e inclusão pode acontecer, tem sido meu maior desafio.
Nós professores temos a chance de fazer a diferença na formação acadêmica para o trabalho (e toda sua relação com a extensão, ensino e pesquisa) de estudantes que atuarão na nossa sociedade. Ser professor na atualidade, ainda mais num ano de pandemia, nos faz rever a responsabilidade para a formação, na perspectiva da autonomia e empoderamento. Não podemos esquecer que as tecnologias não são fim e nem remédios para as soluções dos problemas educacionais, mas são meios, assim como tantos outros. Porém, meios diferenciados que podem ser carregados de informações, subjetividades, fake news, pós-verdades, etc que precisam ser descortinadas por nós professores e utilizadas criticamente para que nossos estudantes também possam fazê-lo.Nós professores fomos e continuamos sendo nesse momento de pandemia, juntamente com os estudantes, aqueles que fazem, que vão à luta, mesmo nas mais incríveis dificuldades. E, como já dizia Geraldo Vandré, “vem, vamos embora, que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”."
Assim como em diversas áreas, a Educação neste momento de isolamento e distanciamento social pela crise sanitária da COVID-19, convida a repensar sobre questões complexas, rever práticas e paradigmas. Um momento para pensar que saberes diversos, e as áreas que estão interligadas, como emaranhados complexos onde tudo está conectado. Embora cada área contenha individualidades e especificidades, estão interligadas em uma mesma coletividade. O planeta, o meio ambiente e a saúde planetária passam por ações concretas do ser humano e talvez isto reflita o papel do professor independentemente da área de atuação. Este processo rizomático da Educação passa pelos entroncamentos e emaranhados, pelo trabalho compartilhado e pelas trocas. Assim o momento abre para pensar sobre a pandemia enquanto oportunidades, de grandes desafios, mas de muitas possibilidades, descobertas de “re-existência” e ressurgimentos."
Na minha percepção, as mudanças advindas da pandemia da Covid-19
reforçam e ampliam a importância do professor na sociedade. Basta
observar o relato dos estudantes e das suas famílias no período em que
as escolas e universidades permaneceram fechadas, sem nenhum tipo de
atividade. Para a maior parte deles, a ausência do ambiente escolar e da
prática docente descortinou o papel sublime e insubstituível dos
espaços e dos profissionais da educação na formação de cidadãos capazes
de modificar a sua realidade social. Sem dúvida, o principal desafio é a
falta do contato pessoal. Como seres sociais que somos, estamos
precisando aprender e criar novas formas de nos relacionarmos. Isso
dificulta a construção de uma relação pessoal e empática que é
indispensável para a aprendizagem efetiva. Outro grande desafio é a
sobrecarga de trabalho que estamos vivenciando, uma vez que precisamos
construir novos métodos ao mesmo tempo que os estamos implementando.
O
ensino remoto já é em si mesmo uma situação totalmente inesperada.
Aliado a ele todos os novos métodos, que ainda não dominamos plenamente,
são carregados de surpresas. É um tal de abre câmera, habilita o áudio,
fecha a câmera, inicia a gravação, esquece de gravar.... Muitas vezes
nos pegamos em situações inusitadas, por exemplo, lanchando com a câmera
aberta!
Adaptado de: https://jornal.ufg.br/n/134463-ser-professor-em-2020-desafio-aceito